quarta-feira, 24 de junho de 2009

A "Shoah" existiu!

A negação do holocausto e de alguns crimes contra a humanidade não podem ser encarados de animo leve.

A intenção de extermínio judeu por parte da máquina Nazi, durante a IIGrande Guerra, levada a cabo em alguns campos de concentração, enquadrada na chamada "Solução Final", é um dos episódios mais negros da história. Não são muitos os relatos dos sobreviventes ao Holocausto Nazi.

Sholmo Venezia, oriundo da comunidade judaica italiana de Salonica, Grécia, faz em "Sonderkommando" um relato único de um judeu que foi forçado a trabalhar nas câmaras de gás, onde o extermínio de judeus era uma terrível realidade.

Os "Sonderkommandos", ou "tropas especiais", encarregados pelas SS, tinham a responsabilidade de efectuar o trabalho sujo depois do gaseamento em massa de prisioneiros judeus deportados, retirando os corpos das câmaras e cremando-os de seguida.

Esquecer é impossível e Venezia teve a coragem de contar um pouco de seu Inferno, sem aspas, que faz um apelo à reflexão a que o leitor não fica indiferente. A coragem e a dor de Sholmo Venezia sentem-se a cada letra, palavra, linha, parágrafo. A vida prossegue mas o pesadelo fica para sempre, tatuado na mente... e no antebraço esquerdo.

sábado, 20 de junho de 2009

Zé Português, Beirão da Alemanha

Quem conhece um pouco da história de Portugal durante o Estado Novo e tem conhecimento das artimanhas de Salazar para manter o país de “bem com o mundo”, lembra, concerteza, o tráfico de volfrâmio.

E é sobre este minério que a trama de “O Último acto em Lisboa”, de Robert Wilson, se desenrola. Wilson, que vive no alentejo há alguns anos, revela nesta obra todo o conhecimento que tem de Portugal e da sua história.

Este livro relata-nos duas histórias paralelas, apesar de vividas em tempos diferentes. Em 1941, Klaus Felsen, proprietário de uma fábrica de Berlim, vê-se obrigado a alistar-se nas SS e tem como missão conseguir o maior número de volfrâmio possível para o Fuher; No final dos anos 1990, Zé Coelho, inspector da PJ, investiga o assasinato de uma adolescente em Lisboa.

Ao longo do livro, percebe-se o encandeamento destas duas histórias e a forma absolutamente brilhante com que Wilson nos revela paradigmas, vidas e acasos, deixa-nos verdadeiramente envolvidos numa obra que não apetece largar e que revela um pouco das fraquezas, mistérios e opções de homens simples e/ou perversos.

Acabei de ler “O último acto em Lisboa” há minutos e quero, tenho(!), de ler mais Robert Wilson. Vou a correr à livraria e já volto...

PS. Uma palavra para a capa do livro, nesta edição D. Quixote. Das piores que me lembro. Cruzes, canhoto...

Do Frio Para o Gelo

Ler um dos livros mais importantes da história do romance policial é uma tarefa que acarreta alguns condicionalismos.

Apesar de conhecer a obra de John Le Carré nunca tinha lido nenhum dos seus livros. Como amante confesso do género policial, decidi que O Espião que Saiu do Frio seria uma boa aposta.

Vencedor do Dagger of Daggers, da Crime Writers Association, para o melhor romance policial dos últimos cinquenta anos, este livro é absolutamente assombroso e a história ambígua do agente britânico Alec Leamas é de uma intensidade tal que nos é impossível não devorar as páginas deste livro.

Tido como mestre do policial, Le Carré mudou as regras do jogo ao escrever esta estória de espiões, contra-espionagem, agentes duplos, dogmas, interesses e muito, muito frio.

Alec Leamas, envolve-se numa trama internaional que tem por objectivo anular interesses contraditórios onde os escrúpulos são esquecidos. Na esperança de ser a sua última missão, Leamas ensaia a sua queda, abraça o descrédito e enfrenta o mundo. O objectivo é sair do frio. Mas será que existe alguma coisa para lá disso?

Este livro foi adaptado ao cinema, em 1965, num filme muito premiado de Martin Ritt, com Richard Burton e Claire Bloom nos principais papéis e vai ser esse o meu próximo passo no planeta Le Carré, ver as palavras transformadas em imagem.

E façam o favor de ler este livro. Uma obra-prima!