A morte, o suicido, a perda, o isolamento não são nem nunca serão temas de fácil trato. A dor, ainda que esquecida ou ignorada é ferida que tarda a sarar. Por vezes fica. E mata.
No final dos anos 1990, na pequena povoação de Las Heras, Patagónia, a sul da Argentina, uma série de suicídios retirou a pacatez a um local ensombrado pelo vento constante e o esquecimento de Buenos Aires.
Apenas o petróleo fazia Las Heras viver, ter movimento, ser um ponto no mapa. A economia cresceu e a invasão migrante foi algo por demais evidente sem nunca existir um enraizamento social e cultural. Mas o declínio da exploração do chamado ouro negro trouxe mais esquecimento, incerteza, isolamento, dor, morte.
Intrigada com a pouca, ou nenhuma, atenção que a onda de suicídios teve por parte dos media, e de todos, Leila Guerreiro, jornalista do diário La Nación, rumou a Las Heras para falar com familiares, amigos, amantes dos mortos que, em média, tinham uma idade que rondava os 25 anos, e reconstituiu os acontecimentos trágicos.
Falou-se numa seita, em rituais satânicos, numa lista com os nomes das “vitimas” mas nunca ninguém confirmou nada nem sequer se elaborou uma listagem oficial com os falecidos.
O mistério ficou. Para sempre.
Desta investigação resulta um relato cru, intenso, real, carregado de dor, mas que é um retrato preciso e precioso de um pueblo que vive um quotidiano amorfo, sem futuro onde nada existe e para onde não se sabe se caminha. “Os Suicidas do Fim do Mundo” é como uma seta apontada a um alvo (in)definido.
As pessoas de Las Heras vivem das lembranças, do passado, do ente querido. Ao longo das páginas deste interessante livro, que chega a parecer “romanceado”, chegamos a encarar a dor como uma penitência com alguns, mas poucos, “culpados”.
A nós, chega-nos este excelente relato em forma de livro. A ler, definitivamente.
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